quarta-feira, 3 de novembro de 2010

FUNDAMENTOS DA ERGONOMIA

As diferentes abordagens em ergonomia

MARCELIN e FERREIRA (1982), comentam que a maioria dos conhecimentos utilizados pela ergonomia não são próprios dela, mas "emprestados" de outras disciplinas, particularmente da fisiologia e da psicologia do trabalho. A organização e a utilização desses conhecimentos. em uma determinada situação de trabalho, ou seja, a metodologia empregada, esta sim, é própria da ergonomia. A. WISNER (op. cit.), considera mesmo, ser a metodologia o domínio preferencial das pesquisas em ergonomia.

Uma das metodologias mais utilizadas na atualidade, em especial nas escolas de linha francesa, é a de Análise Ergonômica do Trabalho - AET, que procura estudar o trabalho não só na sua dimensão explícita (tarefa), conforme definido pela engenharia de métodos, mas, sobretudo, na sua dimensão implícita (atividades), característica do conhecimento tácito do pessoal de nível operacional.

A prática da ergonomia, segundo SANTOS e FIALHO (1995), "consiste em emitir juízos de valor sobre o desempenho global de determinados sistemas ser humano(s)-tarefa(s). Como tais sistemas normalmente são complexos, envolvendo expectativas relativamente numerosas, procura-se facilitar a avaliação sobre o desempenho global apoiando-se no princípio da análise/síntese".

Atualmente, dentro da ergonomia estuda-se também a macroergonomia, que surgiu a partir dos estudos de HENDRICK (1994). Segundo este autor, a ergonomia está na sua terceira geração:

A primeira geração concentrou-se no projeto de trabalhos específicos, interfaces ser humano-máquinas, incluindo controles, painéis, arranjo do espaço e ambientes de trabalho. A maioria das pesquisas referia-se à antropometria e a outras características físicas do ser humano. Esta aplicação continua a ser um aspecto extremamente importante para a prática da ergonomia em termos de contribuições para a segurança industrial e para a melhoria geral da qualidade de vida.

A segunda geração da ergonomia se inicia com à ênfase na natureza cognitiva do trabalho. Tal ocorreu em função das inovações tecnológicas e, em particular, do desenvolvimento de sistemas informatizados (ergonomia de software).

A terceira geração da ergonomia resulta do aumento progressivo da automação de sistemas em fábricas e escritórios, do surgimento da robótica. Esta geração da ergonomia privilegia a macroergonomia ou seja a organização global em termos de máquina/sistema, e se concentra no desenvolvimento para auxiliar os controladores de processo a decidir sobre a adoção de cursos de ação que atendam aos múltiplos objetivos do mesmo.

Segundo MESHKATI (1993), a macroergonomia consiste na "análise das interfaces tecnologia-organização-ser humano e das interações cultura-gerenciamento-tecnologia", ou "o estudo dos fatores humanos num nível macro ou num sistema pessoas-tecnologia mais abrangente, que está relacionado com as interações entre (sub-) sistemas tecnológicos e (sub-) sistemas organizacionais, gerenciais, pessoais e culturais".

Para BROWN JR (1990), "a macroergonomia entende as organizações como sistemas sócio-técnicos e incorpora conceitos e procedimentos da teoria dos sistemas sócio-técnicos ao campo da ergonomia".

A macroergonomia, portanto, entendendo as organizações como sistemas abertos, em permanente interação com o ambiente e, evidentemente, passando por processos de adaptação e, ao mesmo tempo, passíveis de apresentar disfunções organizacionais, que se refletem nas suas performances e muito particularmente, no subsistema social, através da metodologia própria da ergonomia - a análise ergonômica do trabalho - desenvolve a análise do trabalho, e promove o tratamento da interface MÁQUINA - SER HUMANO - ORGANIZAÇÃO.

Da mesma forma, WISNER (1982), propõe uma abordagem mais ampla da ergonomia, designada antropotecnologia, quando do processo de transferência de tecnologia, de um país para outro, de uma região para outra de um mesmo país, ou também, de um laboratório de pesquisa para o setor empresarial. Segundo este autor, além das considerações ergonômicas tradicionais, é necessário, também, levar em consideração os aspectos de natureza contingencial: cultura, geografia, aspectos sócio-econômicos, clima, etc.

Em sua evolução conceitual, verifica-se que a ergonomia, hoje, se constitui numa ferramenta de gestão empresarial. De nada adianta a certificação de qualidade de processos e produtos, se não se consegue certificar sentimentos, crenças, hábitos, costumes, isto é, certificar o ser humano. Uma das formas de compatibilizar os sistemas técnico e social, é evidentemente, o que preceitua a ergonomia : a visão antropocêntrica.

O centro das atenções no ser humano, isto é, a antropocentricidade da ergonomia, favorece não só mudanças organizacionais, como também alavanca mudanças no conceito de produtividade, este sendo visto à partir da qualidade de vida no trabalho, observando, dentre outros parâmetros : a participação do trabalhador, a liberdade para a criação e a valorização do saber fazer, isto é, do conhecimento tácito.

Neste sentido, então, pode-se classificar a ergonomia de três maneiras:

Quanto a abrangência:

Ergonomia de Posto de Trabalho: abordagem microergonômica;

Ergonomia de Sistemas de Produção: abordagem macroergonômica.

Quanto a contribuição:

Ergonomia de Concepção: é a aplicação de normas e especificações ergonômicas em projeto de ferramentas e postos de trabalho, antes de sua implantação;

Ergonomia de Correção: é a modificações de situações de trabalho já existentes. Portanto, o estudo ergonômico só é feito após a implantação do posto de trabalho;

Ergonomia de Arranjo Físico: é a melhoria de sequências e fluxos de produção, através da mudança de leiaute das plantas industriais (por exemplo: mudança de um leiaute por processo para um leiaute por produto);

Ergonomia de Conscientização: é a capacitação das pessoas nos métodos e técnicas de análise ergonômica do trabalho.

Quanto a interdisciplinaridade:

Engenharia: é o projeto e a produção ergonomicamente corretos, garantindo a segurança, a saúde e a eficácia do ser humano no trabalho;

Design: é a aplicação das normas e especificações ergonômicas no projeto e design de produtos;

Psicologia: recrutamento, treinamento e motivação do pessoal;

Medicina e Enfermagem do Trabalho: é a prevenção de acidentes e de doenças do trabalho;

Administração: gestão de recursos humanos, projetos e mudanças organizacionais.

Aplicações da ergonomia

A ergonomia pode ser aplicada nos mais diversos setores da atividade produtiva. Em princípio, sua maior aplicação se deu na agricultura, mineração e, sobretudo, na indústria. Mais recentemente, a ergonomia tem sido aplicada no emergente setor de serviços e, também, na vida cotidiana das pessoas, nas atividades domésticas e de lazer.

1) Ergonomia na indústria:

melhoria das interfaces dos sistemas ser humanos-tarefas;
melhoria das condições ambientais de trabalho;
melhoria das condições organizacionais de trabalho.

2) Ergonomia na agricultura e na mineração:

melhoria do projeto de máquinas agrícolas e de mineração;
melhoria das tarefas de colheita, transporte e armazenagem;
estudos sobre os efeitos dos agro-tóxicos.

3) Ergonomia no setor de serviços:

melhoria do projeto de sistemas de informação (ergonomia da informática);
melhoria do projeto de sistemas complexos de controle (salas de controle);
desenvolvimento de sistemas inteligentes de apoio à decisão;
estudos diversos sobre: hospitais, bancos, supermercados, ...

4) Ergonomia na vida diária:

consideração de recomendações ergonômicas na concepção de objetos e equipamentos eletrodomésticos de uso cotidiano.

Disciplinas de base da ergonomia

O arcabouço teórico da ergonomia é baseado em diversas disciplinas científicas, em particular da matemática, das ciências físicas, das ciências biológicas e das ciências humanas.

Todavia, as duas disciplinas que mais contribuíram para o desenvolvimento científico da ergonomia foram a psicologia e a fisiologia do trabalho.

A figura abaixo mostra a origem da ergonomia, a partir do inter-relacionamento entre os diversos campos de conhecimento e disciplinas científicas envolvidas.





Fonte: http://www.eps.ufsc.br/ergon/disciplinas/EPS5225/aula_1.htm#1.6

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