ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA EP NO BRASIL
Nos mesmos moldes, no Brasil, alguns fatos históricos ligados à engenharia de produção antecederam a criação da profissão. O primeiro deles foi a construção, em 1924, dos quartéis do exército por Roberto Simonsen, a pedido do então ministro da Guerra de Epitácio Pessoa, fazendo uso de “novidades”, como a “standartização”, a organização e harmonização do trabalho, além do aproveitamento da fabricação em larga escala. O segundo foi a criação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort) em 1931, composto por várias
classes de trabalhadores (engenheiros, médicos, etc.), que visavam melhorar o padrão de vida dos trabalhadores de São Paulo e, consequentemente, do país, pela difusão e introdução de processos de organização científica do trabalho e da produção.
Dentre as atividades principais do Idort, Leme (1983) elenca pesquisas e seminários sobre condições de iluminação, prevenção de acidentes, combate
ao desperdício, reorganização da empresa e racionalização de serviços públicos. Apesar de
o taylorismo no Brasil ter sido introduzido pelo Idort, não se nota nada ligado ao ensino de engenharia de produção.
Por fim, o terceiro marco foi a mudança do mercado de trabalho brasileiro na década de 1950
com a instalação de indústrias multinacionais norte-americanas, que traziam, em sua cultura,
padrões internacionais de produção.
A ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NO BRASIL 35
tados nos princípios de Taylor. Nos organogramas de tais corporações havia os departamentos
de tempos e métodos, planejamento e controle da produção e controle da qualidade, ocupados,
em boa parte, por engenheiros industriais norteamericanos.
Nessa época, no Brasil não existiam cursos de engenharia de produção e as escolas de
administração de empresas não eram suficientes para prover pessoas qualificadas às necessidades nacionais dessas corporações4 – tanto em número
de egressos, quanto em formação voltada à produção. Assim, engenheiros civis, mecânicos
e outros profissionais começaram a ocupar esses postos de trabalho de uma forma autodidata.
Surgiu, então, a demanda por profissionais e cursos de engenharia de produção.
A Universidade Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1955, foi a pioneira na criação
de um curso de Engenharia de Produção em nível de extensão, válido para doutoramento,5 pois sua congregação não considerava a engenharia de produção uma engenharia, a ponto de se montar um curso de graduação. Todavia, a demanda pelo curso de extensão foi tal que superou as demais áreas até então oferecidas. Tal fato foi capaz de sensibilizar a universidade no sentido de que, se não formasse engenheiros de produção na graduação, outra universidade o faria. Nasceu, então, em 1958, o primeiro curso de Engenharia de Produção com ênfase na Engenharia Mecânica, 6 ministrado aos alunos do 4º. ano, uma vez que os três primeiros eram básicos e comuns à especialidade.
Em 1960 formou-se a primeira turma, quase toda absorvida pela multinacional Olivetti.
A partir de então, o mercado começou a demandar o engenheiro de produção em diversos
setores. Especificamente em São Paulo, as indústrias automobilísticas instaladas na região
do ABC empregavam engenheiros de produção com funções semelhantes às dos industrials engineers norte-americanos (planejamento e controle da produção, controle da qualidade, tempos e métodos etc). No eixo São Paulo–Rio de Janeiro, com a entrada dos primeiros computadores eletrônicos nas empresas, muitos engenheiros de produção foram contratados para desempenhar papéis de analistas de sistemas e programadores (em razão, principalmente, da visão holística de empresa), caracterizando um mercado de trabalho
peculiar para a profissão. Com o estímulo do governo de Castelo Branco ao mercado de capitais,
bancos de investimentos foram criados e passaram a buscar os engenheiros de produção
pela sua forte formação em engenharia econômica.
Em 1965, a Petrobras fomentou a criação de um grupo de estudos em pesquisa operacional,
visando a aplicações práticas na corporação. Resumindo, observou-se a existência do profissional
na indústria de transformação, na indústria de extração, no setor de serviços e no setor de
informática.
Leme (1983) propõe a divisão da história da engenharia de produção no Brasil em três momentos bem definidos: de 1931 a 1954, de 1954 a 1966 e após 1966, conforme sintetiza o Quadro 1.
Quadro 1 - A história da EP fragmentada em períodos
Fonte: http://www.upf.br/seer/index.php/ree/article/viewFile/397/260
Revista de Ensino de Engenharia, v. 27, n. 2, p. 33-42, 2008 – ISSN 0101-5001
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
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