1. Introdução
Saliba (2011) aborda que até no
inicio da revolução industrial existem poucos relatos sobre acidentes e doenças
provenientes do trabalho, resaltando que o trabalho era escravo ou manual. E
que surgiu na Alemanha no ano de 1884 e no Brasil no ano de 1919 as primeiras
leis garantindo direitos aos trabalhadores. No Brasil surgiu com o decreto 3.724. Instituída a Lei n° 3.724, de
15 de janeiro de 1919, que torna obrigatório o seguro contra acidentes do
trabalho em algumas atividades.
A Consolidação das leis do trabalho
– CLT surgiu durante o governo de Getulio Vargas em 1943 e na década de 1978
surgiram às normas regulamentadoras, sabe-se que durante vários anos estes dois
documentos foram sendo acrescentados vários outros direitos e requisitos,
garantindo mais direitos aos trabalhadores.
Apesar das criações de várias leis
que regulamentam as condições de trabalho, muitos empreendimentos não fazem uso
e aplicação das normas regulamentadoras - NR, ocasionando uma exposição do
trabalhador a acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.
Atualmente ainda existem empresas
com ambiente de trabalho com condições insalubres. As condições do local devem
ser favoráveis para que o bem estar do trabalhador seja preservado e sua saúde
não seja prejudicada. Além disso, como consequência a empresa também sai
perdendo se seus funcionários estiverem em condições desfavoráveis, pois seu
rendimento ou produtividade certamente será baixo, já em boas condições há um
melhor nível de satisfação dos mesmos, apresentando melhores resultados na
produção.
Apenas os resultados produtivos não
são os únicos motivos para se avaliar as condições que os trabalhadores são
submetidos. Trata-se de seres humanos e vidas, na qual não só o engenheiro de segurança
do trabalho tem responsabilidade, como também a empresa. Deve-se ter muito
cuidado ao expor a vida de outra pessoa ao risco, em postos que ofereçam periculosidade
ou insalubridade. O grau de risco deve ser medido e avaliado para verificar se
as condições de exposição estão adequadas até no máximo tolerável para que o
trabalhador seja exposto com segurança, e não ofereça grandes danos a sua saúde
física e mental.
Os equipamentos também muitas vezes
não tem o projeto adequado visando às condições do operador, e sim a função que
ela vai exercer a partir daí se podem oferecer condições inadequadas ao tempo
de exposição ocupacional ao ruído, calor e fatores ergonômicos. Segundo Fiedler
(1995) as máquinas são, na maioria das vezes, importadas ou adaptadas de outras
máquinas e de custos elevados, o que exige o máximo aproveitamento de todas as
suas funções menos prezando, muitas vezes, as condições de trabalho,
principalmente o homem que opera esta máquina, forçando-o a adaptar-se às
condições da máquina relegando, desta maneira, os princípios ergonômicos.
Embora as empresas estejam cientes
deste fato, ainda sim expõem seus colaboradores a situações incomodas, porque
para oferecer melhores condições, exige um custo que é visto como despesa
desnecessária. Assim, a fim de defender e assegurar a saúde do trabalhador foi criado
as NBR’s que é uma norma brasileira da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), que estabelece padrões
técnicos para garantir a proteção da vida
humana, da saúde e do meio ambiente.
Este trabalho foi desenvolvido teve como objetivo verificar as
condições de trabalho em uma indústria de calçados na cidade de Campina
Grande-PB, avaliando os riscos físicos presentes na atividade estudada, fora
avaliados e quantificados o calor, a iluminação e o ruído, nos setores de corte
e costura.
O
risco sempre fez e faz parte do cotidiano do ser humano estimulando-o a
conhecê-lo, desafiá-lo e em alguns casos até superá-lo. É certo que as formas
de risco vêm sofrendo mutações com o decorrer da história. O homem
pré-histórico, por exemplo, que tinha a caça como fonte de vida, corria riscos
ao ser obrigado a conviver e enfrentar animais perigosos. Com o passar do tempo
e com o desenvolvimento das condições de vida, os riscos foram adquirindo novas
formas.
Um fato histórico que
teve grandes consequências para a saúde do trabalhador foi a Industrialização,
e isso se deu devido a grande preocupação por parte dos empresários em apenas
obter lucros, proporcionando um ambiente de trabalho com condições inadequadas,
como: exposição a agentes físicos, químicos, biológicos, em ambientes sujos,
mal iluminados, com a utilização de máquinas desproporcionais e também expondo
seus trabalhadores a longas jornadas gerando agressões constantes ao homem e
meio ambiente.
Esse fato não ocorre
somente por falta de legislação ou equipamentos de segurança adequados, mas sim
pela falta de conscientização da responsabilidade que todos têm, trabalhadores,
empresários e profissionais da área que devem ter no seu cotidiano espírito prevencionista
como meta para evitar os acidentes e doenças ocupacionais.
A NR-9, item 9.1.5, que
trata do PPRA, classifica riscos ambientais como agentes físicos, químicos e
biológicos existentes no ambiente de trabalho que, em função da sua natureza,
concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à
saúde do trabalhador.
A NR define que os agentes físicos são as diversas formas de energia a que
possam estar expostas os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões
anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som. Veremos a seguir sobre ruído,
iluminância e calor mais detalhadamente. Segundo Mattos, Másculo ( 2011) os
riscos físicos são:
“aqueles
ocasionados por agentes que têm capacidade de modificar as características
físicas do meio ambiente, que, no momento seguinte, causará agressões em quem
estiver nele imenso”.
Ainda segundo Mattos,
Másculo (2011) caracteriza os riscos físicos como:
a)
Exige um meio
de transmissão (em geral no ar) para propagar a nocividade;
b)
Agir mesmo
sobre pessoas que não têm contato direto com a fonte de risco e
c)
Ocasiona, em
geral, lesões crônicas, mediatas.
Os riscos físicos são
efeitos gerados por máquinas, equipamentos e condições físicas, características
do local de trabalho que podem causar prejuízos à saúde do trabalhador. No
quadro 1 a seguir apresenta as consequências à exposição a estes agentes
causadores.
Riscos
Físicos
|
Consequências
|
Ruído
|
Cansaço, irritação, dores de cabeça, diminuição
da audição, aumento da pressão arterial, problemas do aparelho digestivo,
taquicardia e perigo de infarto.
|
Calor
|
Taquicardia, aumento de pulsação, cansaço,
irritação, intermação (afecção orgânica produzida pelo calor), prostração térmica,
choque térmico, fadiga térmica perturbações das funções digestivas,
hipertensão, etc.
|
Iluminação
|
Maior fadiga visual e geral; maior risco de
acidente, menor produtividade e qualidade, ambiente psicologicamente
negativo.
|
Quadro 1:
Consequências de cada agente causador do risco
A iluminação não é considerada como
um “agente agressivo” segundo a ótica da higiene ocupacional, mas podemos
perceber que pode causar consequências graves. Iremos discutir sobre este
tópico a seguir.
2.1
Ruído
Para Iida (2005), fisicamente,
define-se ruído como uma mistura complexa de diversas vibrações, medido em uma
escala logarítmica, cuja unidade de medida é o decibel. A mesma autora ainda
cita que uma definição de caráter mais operacional seria a de que o ruído é um
estímulo auditivo que não contém informações úteis para se executar determinada
tarefa.
Caracterizado essencialmente por um
som indesejado e incomodo (TLC, 1998). O barulho em uma rotina de trabalho,
trás sérios riscos que vão atuando aos poucos afetando o aparelho auditivo do
trabalhador gradativamente e sem reversão do quadro. Em muitos casos a empresa
fornece o EPI para o controle deste fato, mais os próprios trabalhadores não
usam, não tendo a noção do risco que estão correndo.
O ruído constitui, atualmente, um
dos riscos ocupacionais mais relevantes no meio industrial. Dada a sua estreita
associação à incomodidade que provoca, é, geralmente, encarado numa perspectiva
mais abrangente do que a será abordada ao longo deste trabalho, a qual
privilegiará a vertente ocupacional (Arezes,
2002).
Além da surdez, efeito este mais
evidente do ruído sobre o trabalhador, o ruído pode contribuir ainda como, por
exemplo: distúrbios gastrointestinais, distúrbios relacionados com o sistema
nervoso humano (irritabilidade, nervosismos,
etc.), pode acelerar a pulsação, elevar a pressão arterial, contrair os
vasos sanguíneos e provocar também outras alterações de acordo com a
susceptibilidade de cada organismo (SALIBA, 2004).
O quadro 2 a seguir apresenta os
efeitos diretos e indiretos da exposição aos ruídos profissionais.
Direto
|
Surdez temporária requerendo recuperação
|
|
Surdez progressiva
|
||
Aumento cumulativo de penocidade
|
||
Distúrbio de atenção e de memória
|
||
Comunicações perturbadas
|
||
Isolamento profissional
|
||
Indireto
|
Estado geral
|
Aumento da sensação de fadiga
|
Ansiedade, agressividade
|
||
Perturbações do sono
|
||
Fisiológico
|
Hipertensão arterial
|
|
Vertigens
|
||
Problemas digestórios
|
||
Tensão muscular
|
||
Perda da imunidade das células auditivas
|
||
Vida social
|
Dificuldade de relacionamento e período
de recuperação
|
|
Isolamento progressivo do circulo
familiar
|
Quadro
2: efeitos diretos e indiretos da exposição aos ruídos profissionais.
Fonte:
Mattos, Másculo 2011.
Segundo
Mattos, Másculo (2011) existem nos ambientes de trabalho uma superposição de
sons e ruídos desejados ou não de diversas origens e algumas fontes distantes e
outras de origem próxima e que acaba influenciando o ambiente.
Para
o controle ou eliminação do risco é
necessário entender que assim como para ambiente em que sofre com outros
agentes, o controle deve ser iniciado
com a fonte, meio e depois com o receptor. Ou seja, Deve-se identificar a fonte
geradora de ruído, buscar medidas para eliminar ou reduzir como, por exemplo:
substituir a máquina por uma que rege menos ruído, realizar a manutenção
preventiva, como medida para o meio de transmissão pode ser feito o
enclausuramento da máquina evitando a propagação do ruído ou do ambiente.
A
norma regulamentadora que trata mais especificamente do ruído e da exposição
dos trabalhadores a este agente é a NR-15 – Atividades e Operações Insalubres.
Esta Norma Regulamentadora estabelece que o Limite de Tolerância seja a
concentração ou intensidade máxima ou mínima, relacionada com a natureza e com
o tempo de exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador.
Segundo este conceito, a NR-15 estabelece estes limites de tolerância para o
ruído em seus Anexos 1 e 2 (BRASIL, 2009).
E
por fim do receptor que pode ser retirar o individuo do ambiente poluído, ou
utilização de equipamentos de proteção individual.
Saliba
(2004) considera que as medidas de controle do ruído podem ser classificadas
basicamente em três formas distintas: controle na fonte, na trajetória e no
homem. Atualmente pode-se constatar que, embora devam ser prioritárias, as
medidas de controle na fonte e no meio, não são implementadas com grande
frequência, seja por inviabilidade técnica, financeira ou até mesmo pela
simples resistência ou desconhecimento por parte dos empregadores. Decorrente
disto, grande parte das empresas adotam o EPI, ou seja, o protetor auricular
como medida de controle do ruído, motivo pelo qual esta é a medida enfatizada
neste trabalho.
Sabe-se
que o uso de equipamentos de proteção coletiva muitas vezes é a medida mais
eficiente, mas podendo ser a menos viável para muitas empresas devido ao seu
alto custo. Tornado assim o uso de equipamentos de proteção individual uma
prática comum.
2.2
Iluminância
Segundo Saliba (2011) ele apresente
que foram desenvolvidas duas teorias sobre a natureza da luz.
a)
A luz é constituída de variados
comprimentos de ondas ou de partículas, que são os fótons, ou seja, ela tem
comportamento ondulatório ou corpuscular, manifestando-se conforme o caso.
b)
A luz é uma forma de energia radiante que
se manifesta pela capacidade de produzir a sensação da visão. Para o estudo da
iluminação, a teoria ondulatória é satisfeita para explicar seus diferentes
fenômenos.
Ainda
segundo o autor ele divide a iluminação em dois tipos: Natural e artificial. A
natural é obtida por meio de aberturas
que favorecem a entrada da luz natural, tais como: janelas, portas, claraboias,
telhas translúcidas e etc. e artificial é obtida por meio de lâmpadas
elétricas.
A
intensidade de luz no ambiente pode variar de acordo com a necessidade para
cada posto de trabalho. A luminosidade deve ser adequada para tal função, nem
de mais nem de menos. Geralmente as atividades que exigem uma boa iluminação
como a direcionada, por exemplo, são as que exigem minuciosidade, precisão de
movimentos, rapidez nos movimentos e nos pequenos detalhes. Este ainda sim deve
ser monitorada que não seja em excesso, prejudicando a visão e as condições do
trabalhador, e até mesmo seu desempenho e reflexos.
Segundo
Couto (1995), a iluminação adequada se constitui em um dos principais itens para
o conforto humano, produtividade e qualidade de vida, razão por que se torna
relevante que tanto o campo de trabalho quanto os mecanismos de acesso à
máquina estejam devidamente iluminados.
As
medidas corretivas para obtiver uma iluminação adequada ao posto de trabalho
são apresentadas a seguir:
a)
Quantidade de
iluminarias deve ser adequada para se obter o nível de iluminamento necessário.
Esta quantidade é medida de acordo com cálculos de iluminação e analisando as
condições ambientais, pois estes influenciam a iluminação. É importante também
analisar que o arranjo físico ou layout pode influenciar de forma a aproveitar
no máximo o fluxo iluminoso.
b)
Distribuição e
localização das iluminarias devem ser dispostas no ambiente de forma a
proporcionar o máximo de utilização da capacidade instalada e assim
proporcionar uma maior eficiência. Evitando assim o surgimento de sombras ou
contrastes nos locais de operação.
c)
Manutenção é
essencial para a boa eficiência da iluminação, pois a falta de limpeza e
substituição das lâmpadas.
d)
Cores adequadas
nas superfícies do ambiente são importantes como em paredes, móveis e teto.
Proporcionando assim refletância adequada para o ambiente. Podemos analisar os
níveis de refletância de algumas superfícies em que é apresentado no quadro 3 a
seguir:
Superfície
|
Refletância
recomentada
|
Teto
|
80%
|
Parede
|
60%
|
Mesas e
bancadas
|
35%
|
Máquinas e
equipamentos
|
25% a 35%
|
Piso
|
15%
|
Quadro
3: níveis de refletância em várias superfícies
Fonte:
Saliba, 2011
A
refletância segundo o autor Saliba (2011) é definida refletância de uma
superfície como sendo a percentagem de luz refletida, do total incidente sobre
essa superfície.
e)
Variação brusca do
nível de iluminamento, a diferença acentuada entre níveis de iluminamento de
dois locais de trabalho adjacentes pode ocasionar risco de acidentes.
f)
Idade do
trabalhador, com o aumento da idade o
trabalhador vai perdendo a acuidade visual e a percepção de pequenos detalhes,
assim quanto maior a idade maior deve ser o nível de iluminamento.
g)
Incidência direta de
luz pode ser utilizada com janelas, claraboias, telhas translucidas, etc. de
modo que elas devem ser dispostas de maneira que o sol não venha incidir
diretamente sobre o posto trabalho. E assim, buscando aproveitar o máximo
possível a iluminação natural.
2.3
Calor
Ambientes quentes causam desconforto
em qualquer circunstância, não apenas situações de trabalho, mais também no
lazer ou outra ocasião. Como numa empresa o empregado é submetido a diversas
condições, a norma regulamentadora NR-15 (anexo 3), estima limites para o nível
de calor em que o trabalhado esta exposta, e quanto tempo o mesmo poderá atuar
no ambiente.
Saliba (2011) define que quando o
trabalhador está exposto a uma ou várias fontes de calor, ocorrem as seguintes
trocas térmicas entre o ambiente e o organismo, condução, radiação, evaporação
e metabolismo.
Na exposição ao calor existe existem
vários fatores em que influenciam nas trocas de calor entre o corpo humano e o
meio ambiente, sabendo-se que o corpo humano busca o equilíbrio homeotérmico.
Estes fatores podem ser: temperatura do ar, umidade relativa do ar, velocidade
do ar, calor radiante e o tipo de atividade.
Os mecanismos de termorregulação ou
equilíbrio homeotérmico do organismo têm como finalidade manter a temperatura
interna do corpo constante, e é evidente que há um equilíbrio entre a quantidade
de calor gerado no corpo e sua transmissão para o meio ambiente. A equação que
descreve o estado de equilíbrio se denomina balanço térmico.
Onde:
M
– calor produzido pelo metabolismo
C - calor ganho ou perdido por condução – convecção
R - calor ganho ou perdido por radiação
E - calor perdido por evaporação
S - calor acumulado no organismo (sobrecarga
térmica)
O organismo encontrar-se-á em
equilíbrio térmico quando S for igual a zero.
Aumentando-se a temperatura do
ambiente, o estímulo aos receptores de frio na pele é reduzido, enquanto o
estímulo aos receptores de calor é aumentado. Há um aumento concomitante na
quantidade de sangue que flui através dos vasos cutâneos. Em climas quentes,
esse aumento pode provocar um indesejável excesso de carga na circulação, com
consequente desordem no sistema circulatório.
A avaliação do calor a que um
indivíduo está exposto é importante, envolvendo uma grande quantidade de
fatores a serem considerados; a temperatura do corpo e as condições ambientais
devem ser levantadas, pois influenciam nas trocas térmicas entre o corpo humano
e o meio ambiente (SOUZA, 2003).
Quando
o clima no posto de trabalho é desconfortável, ocorrem indisposição e fadiga,
diminuindo a eficiência e aumentando os riscos de acidentes, em virtude do
calor ou mesmo da insolação excessiva em uma jornada de trabalho (Grandjean, 1982).
Os
efeitos do calor no organismo ocorrem quando a temperatura interna do corpo
está elevada. Segundo Saliba (2011) “no organismo sujeito a uma sobrecarga
térmica, várias reações fisiológicas ocorrem visando manter o equilíbrio,
porém, essas reações provocam outras alterações que somadas podem resultar em
distúrbios fisiológicos”.
Existem
quatro categorias principais de doenças decorrentes do calor: exaustão do
calor, desidratação, câimbras de calor e choques térmicos (WELLS, 1993).
A
norma NBR 15 que trata de atividades e operações insalubres estabelece os
limites de tolerância para exposição ao calor para o índice de bulbo unido – termômetro de globo
- IBUTG. Sendo assim, o calor é medido com o IBUTG, que pode ser obtido pelas
equações em ambientes internos e externos com e sem carga solar.
Onde;
tbn = temperatura de bulbo unido natural; tg = temperatura de globo e tgs =
temperatura de globo seco. Na figura 1 a baixo podemos analisar os limites de
tolerância de acordo com a atividade ( leve, moderada ou pesada) e os tempos de
descanso estabelecidos.
Figura 1: índice IBUTG obtido
Fonte: NBR 15 anexo 3, Ministério do trabalho e
emprego
Segundo
a NBR 15 no anexo 3 cita que Os períodos de descanso serão considerados tempo
de serviço para todos os efeitos legais e a determinação do tipo de atividade
(Leve, Moderada ou Pesada) é feita consultando-se o Quadro n.º 3. No quadro 3
do anexo apresenta a descrição da atividade e o gasto energético em Kcal/hora,
classificando em leve, moderada e pesada.
3.
Metodologia
Este
trabalho foi dividido em três etapas; a primeira foi aplicação de um check list com objetivo de identificar
os riscos físicos no ambiente de trabalho, contou também com registros
fotográficos e entrevistas.
A
segunda etapa se deu com a aplicação de um segundo check list com o intuito de identificar se os trabalhadores fazem
uso de EPI's e se conhecem a importância do mesmo para a sua saúde.
Na
ultima etapa foram realizadas medições quantitativas com o uso de instrumentos
específicos e devidamente calibrados sendo estes Termo-Higro-Decibelímetro-Luxímetro
- modelo HTLD -400 da marca Instrutherm e Anemômetro Digital Icel AN-4870.
Essas
medições foram realizadas para quantificar os agentes físicos especificamente o
calor, ruído e iluminância, sendo assim foram medidos os níveis de temperatura
de globo, Unidade relativa do ar, Velocidade do ar para a obtenção a sensação
térmica, para ruído será medido a pressão sonora, obtendo assim o nível de
pressão sonora - NPS, para iluminância será medido o lux. A avaliação e
medições foram realizadas nos dias 22 a 26 de Abril de 2013, em vários horários
da semana.
A
empresa funciona em horário comercial das 08h00min ás 12h00min e 14h00min as
18h00min, com intervalo as 09h45min as 10h00min e às 15h45min as 16h00min e
possui 32 funcionários na produção.
A
fábrica é de pequeno porte, onde os funcionários detém boa habilidade na
realização de suas tarefas, os maquinários na sua maioria estão em boas
condições, embora que necessitem de manutenção e pequenas modificações. A produção é voltada para calçados infantis
com design modernos, chamativos, bonitos, e que são vendidos em grande maioria
para os estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Para, Alagoas e Paraíba.
4.4.
Processo Produtivo do Calçado
Independente do tipo de calçado fabricado, os materiais
envolvidos variam desde o couro de origem animal a materiais sintéticos (PVC,
Poliuretano, Poliestireno, ABS, TR, EVA, borracha sintética, linhas, cordões e
enfeites dos mais variados). Quanto ao processo produtivo do calçado, este
compreende de forma geral as seguintes etapas:
·
Modelagem: Etapa onde são realizadas as
definições do calçado, como por exemplo, todas as suas características de
modelos, dos materiais e acessórios a serem utilizados e escolha dos números ou
tamanhos. As decisões tomadas nesta etapa do processo são: definição do projeto
da fôrma (dimensões do calçado, material a ser utilizado e o custo), definição
dos padrões para a fabricação de calçados (desenho do cabedal, palmilha, solados,
saltos e detalhes), bem como as ferramentas necessárias (navalhas, matrizes
dentre outros), o número de máquinas, trabalhadores necessários (em alguns
casos, subcontratações) e as necessidades de material.
·
Chanfro: Etapa onde se realiza a modelagem
das bordas.
·
Costura: União do couro com o forro.
·
Mesa: Onde é realizado o processo de
colagem, emassado e costura do calçado.
·
Aparazado: Onde ocorre a retirada o excesso
do forro após a costura.
·
Revestimento das palmilhas: Reveste e cava a palmilha com
emborrachado.
·
Preparação dos solados: Limpeza e lixamento dos solados.
·
Conformado
e montagem: Conforma o traseiro que possui contraforte e bota a peça na
forma, a montagem é o ato de reunir as diversas partes do calçado a partir da
montagem do cabedal e da sola na fôrma.
·
Lixamento: Retira o excesso de couro das
bordas.
·
Centralização do solado: União da peça e da forma com o
solado.
·
Prensa: Aparelho que realiza uma pressão
para assim, solar o calçado.
·
Pregos: Prendem o salto no solado.
·
Acabamento: Nessa fase se procede à limpeza e
retirada das linhas do calçado (verificação e conformidade) para só então
retirar a fôrma do calçado, executar a inspeção final e finalizar com a
embalagem do mesmo.
5. Resultados
Durante a coleta de dados foi
aplicado um cleck-list com o objetivo
de analisar a opinião dos funcionários e as condições ambientais em que os
funcionários estão submetidos. A média de idade é 40 anos. Para isso foram
analisados 20 funcionários sendo 7 do sexo masculino e 13 do sexo feminino. Destes
6 tem mais de 5 anos de trabalho. Sabemos que o ruído é um agente em que pode
causar a surdez e por consequência a labirintite, ou seja, tontura. Na figura 2
a seguir mostra o resultado da frequência para cada setor de acordo sintoma
questionado.
Figura
2: Com que frequência você sente tontura?
Nesta figura podemos analisar que em
poucas vezes os funcionários sentiram tontura, e funcionários e a maioria nunca sentiram ou
sentiram poucas vezes.
Na figura 3 podemos analisar a
frequência dos sintomas dos funcionários para cada setor.
Figura 3: Com
que frequência você sente dores de cabeça?
Podemos analisar também que existe
um funcionário no setor de cola em que sente dores de cabeça muitas vezes e no
setor de expedição ás vezes, mas podemos analisar que na grande maioria nunca
sente ou poucas vezes.
5.1.
Cálculos e
Dados Colhidos da Empresa
Os dados colhidos são apresentados
nos tópicos específicos abaixo.
a)
Ruído
A medição do nível de ruído contínuo
ou intermitente foi realizada próximo aos ouvidos dos colaboradores para
garantir o mínimo de erro na medição (ABNT NR15, 1978). O ruído elevado é,
talvez, o risco profissional mais frequente na indústria, porém nem sempre é
considerado com o respeito que merece (OLIVEIRA, 2009).
Foram-se feitas leituras com o Termo-Higro-Decibelímetro-Luxímetro - modelo HTLD -400,
operando no circuito de compensação “A” (a curva de compensação que mais se
aproxima à resposta do ouvido humano) e circuito de resposta lenta (slow) em
diferentes dias e horários. Na quadro 4 podemos analisar os níveis de ruído no
setor de costura.
Ord.
|
Ruído (dB)
|
Ord.
|
Ruído (dB)
|
1
|
71,5
|
8
|
84,5
|
2
|
88
|
9
|
95
|
3
|
70
|
10
|
79,6
|
4
|
75,2
|
11
|
78,9
|
5
|
78,9
|
12
|
72,4
|
6
|
74,5
|
13
|
78,4
|
7
|
61,9
|
14
|
65,3
|
Quadro
4: Níveis de ruído no setor de costura
Foram analisados que no setor de
corte, por existir maquinas em que geram ruído e por terem uma quantidade
considerável e pelo fator dos operadores terem uma jornada de trabalho de 8
horas diárias podendo causar danos caso os níveis sejam consideráveis. No
quadro 5 podemos analisar os níveis de ruído para o setor de corte.
Ord.
|
Ruído (dB)
|
Ord.
|
Ruído (dB)
|
1
|
78,6
|
8
|
79,2
|
2
|
76,5
|
9
|
76,5
|
3
|
73,9
|
10
|
72,4
|
4
|
76,4
|
11
|
76,6
|
5
|
75,4
|
12
|
76
|
6
|
75,2
|
13
|
73,3
|
7
|
63,7
|
14
|
65,8
|
Quadro
5: Níveis de ruído no setor de corte
Constatou-se que o máximo de ruído
encontrado no setor de costura tem como valor 76,72dB e no setor de corte 63,60dB.
Segundo ABNT NR15 (1978), trabalhos com oito horas diárias têm limite de
tolerância fixado em 85 dB. Baseado na mesma norma foi analisado o ruído de
impacto, que deveria ser de no máximo 130 dB, porém não se constatou ruído de
impacto no setor.
b)
Iluminação
O nível de Iluminação foi avaliado
somente no local de trabalho, e no momento exato que os colaboradores
desempenhavam suas funções de maneira normal e habitual. As medições dos níveis
de iluminação foram executadas no campo de trabalho onde se realiza a tarefa
visual (ABNT NBR 5413, 1992). No quadro 2, pode-se constatar que os valores
estão dentro dos limites de tolerância exigidos pelas normas no ponto em que
cita para ambientes de indústrias de calçados para couros a iluminância deve
variar de 750 a 1500 e para materiais de borracha para rolamentos de solas,
colagem de revestimentos interno, com montagem e acabamento varia de 300 a 750.
A refletância é superior a 70%, pois as paredes da fábrica são brancas, sendo
assim temos que o nível de iluminância é a média, ou seja, de 500 Lux.
Os valores das leituras são
apresentados no quadro 7 para o setor de
corte.
Ord.
|
Leitura (lux)
|
Ord.
|
Leitura (lux)
|
|
1
|
130
|
6
|
192
|
|
2
|
145
|
7
|
147
|
|
3
|
187
|
8
|
139
|
|
4
|
186
|
9
|
170
|
|
5
|
142
|
10
|
183
|
Quadro 7: Valores das leituras obtidas com o decibelímetro no setor de
corte
No quadro 8 são medidas para o setor de costura, como
veremos a seguir:
Ord.
|
Leitura (lux)
|
Ord.
|
Leitura (lux)
|
|
1
|
235
|
6
|
334
|
|
2
|
240
|
7
|
238
|
|
3
|
304
|
8
|
302
|
|
4
|
249
|
9
|
305
|
|
5
|
289
|
10
|
264
|
Quadro 8: Valores
das leituras obtidas com o decibelímetro no setor de costura
Podemos
analisar que a media de lux no setor de corte é de 162 lux e no setor e costura
é de 276 lux são necessários 500 lux para o setor de corte e 500 lux para o
setor de costura.
c)
IBUTG
Segundo ABNT NR15 (1978), para
ambientes internos o IBUTG deve ser igual a 0,7 vezes o valor obtido no
termômetro de bulbo úmido natural (tnb), mais 0,3 vezes o valor obtido no
termômetro de globo (tb), onde tais medições devem ser efetuadas no local onde
permanece o colaborador, à altura da região do corpo mais atingida. Logo:
IBUTG = 0,7 x tbn + 0,3 x tg
Os valores do tbn e tg foram
respectivamente de 25,4°C e 40,8°C, ficando com:
IBUTG = 0,7 x 28,98 + 0,3 x 26,43
Chegando a um valor de IBUTG de 28,2,
que segundo a ABNT NR15 (1978) caracteriza trabalho continuo leve, sem
necessidade de descanso.
6.
Conclusão
Esta avaliação foi de extrema
importância, pois verificou em que situações os trabalhadores se encontram. Os
fatores abordados são os mais comuns em que as empresas deixam passar um pouco
por despercebido, visto a importância e as consequências que estes podem
causar. As empresas precisam saber em quais reais situações estão expondo sua
equipe de trabalhadores, para não deixar que os mesmos estejam expostos a
situações adversas de desconforto e que possam causar algum tipo de dano a sua
saúde.
Podemos então a partir da análise
dos dados apresentados concluírem que:
·
Os níveis de ruído encontram-se de acordo
com a ABNT NR15 (1978) nos pontos avaliados, que esclarecem que os empregados
não sofrem com o nível de ruído emitido pelas máquinas bem como ruído de
impacto.
·
A luminosidade para as atividades executadas
na empresam encontram-se normais, e não necessitam de adequações.
·
O fator calor está dentro dos níveis
aceitáveis de IBUTG, enquadrando-se numa atividade considerada leve, segundo anexo-3 da Norma Regulamentadora nº 15, da
portaria 3214 do MTb, que possibilita o trabalho contínuo, não havendo
necessidade de descanso em outra área com temperatura amena.
As medições serviram para verificar
em qual situação a empresa expõe seus funcionários, e constatamos que as
condições devem ser mantidas e sempre verificadas para que não fujam dos
parâmetros estabelecidos pelas normas, a fim de garantir a saúde do trabalhador
bem como a agilidade em todo o processo produtivo, pois o empregado estando em
situações confortáveis terá um melhor rendimento e resultados em sua atividade.
6.
Referencias
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procedimento. Rio de Janeiro, 1992.
_______.
NBR 10151: Acústica –Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto
da comunidade: procedimento. Rio de Janeiro, 2000.
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Atlas, 2009.
______,
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Prevenção de Riscos Ambientais. Manual da Editora Atlas, 63ª Edição, São Paulo:
Atlas, 2009.
______,
Ministério do Trabalho e Emprego, Norma Regulamentadora NR-15 Atividades e
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2009
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Trabalho - Sobrecarga Térmica e Temperaturas Baixas. Universidade Federal de
Santa Catarina: Florianópolis, 2003.
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Noise, Compton’s Encyclopedia Online v3.0, Learning company Inc., disponível em
.
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2013. Disponível em: http://www.cqgp.sp.gov.br/gt.../procel%20predio_pub_manual_iluminacao.pdf
Um comentário:
Todos as coletas das amostras foram seguindo o protocolo para não ter influência.
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